sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

La Carretera de la muerte - Parte 1

Na pedalada de natal resolvi enfrentar com minha fiel escudeira Capitu a estrada mais perigosa do mundo, “La carretera de la muerte”. Este caminho, que liga as cidades de La Paz e Coroico, reserva muitas aventuras, e exatamente por isso segui por ele.

Tudo começou com uma subida de La Paz até um lugar chamado La Cumbre, que assusta com os seus 4800 metros acima do nível do mar. Além da subida ser extremamente cansativa, o frio se torna cada vez mais insuportável, com ventos que rasgam a face e uma neblina que me impedia de ver 10 metros à frente. Quando cheguei ao pico da montanha, simplesmente esqueci de tudo ao vislumbrar a cidade de La Paz bem do alto, com suas montanhas nevadas e construções fantásticas nas margens de cada morro. Perdi o fôlego, mas felizmente não foi por causa da altitude, com a qual já estou mais do que acostumado.

De La Cumbre em diante seriam umas 3 horas de pura descida, o que teoricamente me daria certa tranqüilidade, mas se não tivesse aventura não seria mais o Roda América!!! Pois bem, vi uma estrada paralela, sem asfalto e cheia de pedras, com uma placa escrita “Desvio para bicicletas”, e foi meu grande erro seguir por ela. Enquanto baixava a sinuosa estrada, apareceram algumas bifurcações sem placas para me dizer por qual caminho seguir, me dando somente as escolhas de retornar ou tentar a sorte. Escolhi a segunda opção. Os que bem me conhecem sabem que não sou exatamente um cara sortudo, por isso depois de seguir montanha abaixo por mais de uma hora, eis que simplesmente me deparo com um rio, sem estrada nem qualquer possibilidade de caminho adiante.

“Ok, voltarei”, pensava eu com meus borbotões, mas ao olhar para trás e ver a montanha que teria que subir percebi que esta seria uma tarefa árdua. Pedras grandes me impediam de subir com a Capitu, então me limitei a carregar minha fiel escudeira lentamente por mais de duas horas a fio. Não conseguia ver quase nada devido a neblina que não dava trégua, apenas me limitando a seguir mecanicamente a estrada, sem poder ver se haveria algum caminho mais curto até o asfalto. Pela quantidade de brumas, parecia que em breve eu chegaria em Ávalon.

17:30, iria escurecer em breve. Peguei a barraca para dormir e recomeçar a subida no dia seguinte, quando vi que uma das peças estava quebrada. Ai ai ai ai ai ai ai ....Com frio, sem ver quase nada, sem barraca, sem qualquer bípede ou sinal de civilização...As coisas começavam a se complicar pro meu lado. Não sei explicar exatamente como isso acontece, mas quando o bicho pega não me dá exatamente uma sensação de medo, apenas fico com uma espécie de “sentido mais apurado das coisas”. Uma calma e um instinto de sobrevivência extremamente apurados se ocupavam de 100% de mim desde aquele instante.

Ao subir encontrei um grupo de índios que caminhava lentamente entre as montanhas, então apressei-me em alcançá-los para pedir informações e ajuda. Apenas um índio que aparentava uns 13 anos falava, muito mal, castelhano (os outros se comunicavam em Aymara), e ele começava a traduzir aos outros o que eu dizia. Depois que o jovem havia dito tudo, aguardei ansiosamente enquanto os outros índios discutiam em Aymara o meu destino. Eis que eles olharam para mim e apenas sorriram amavelmente. Dessa vez não precisei de tradução, pois certas coisas são universais.

O que aparentava ser o índio mais velho separou 3 outras pessoas para me ajudar a escalar uma montanha, que daria em uma estrada asfaltada. A esta altura do campeonato eu já não tinha pernas pra escalar uma montanha carregando qualquer coisa, quanto mais uma bicicleta e mais 40 quilos de equipagem, e os índios perceberam isso e carregaram absolutamente tudo para mim montanha acima, e tenho a impressão de que carregariam até a mim mesmo se eu pedisse. Já habituado aos costumes bolivianos, peguei um pouco de meu escasso dinheiro e ofertei a eles, quando para minha surpresa eles recusaram categoricamente. Os índios sorriram mais uma vez e disseram ao tradutor do Grupo: “Não cobramos ajuda a quem necessita, apenas ajudamos. Este será seu presente de natal, pra recordar o que representa o povo boliviano". Jamais esquecerei esta gente forte, amável e de uma pureza de espírito incompreensível para muitos.

Desta vez também não precisei de tradutor. Apenas dei um longo e emocionado abraço em cada um dos que me ajudou, tentando com este gesto dizer o que jamais conseguiria ser traduzido para qualquer idioma.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Terrorismo brasileiro

Estava eu trabalhando quando Michael, meu chefe americano, me chama aos risos para mostrar a seguinte notícia no New York Times:

Papai Noel é recebido a tiros no Rio de Janeiro

- Ei, as coisas estão bem seguras no seu país, hein!! Até o Papai Noel...
- Fazer o que, deve ter gente que não acredita nele por .
- Mas imagina as crianças esperando o Helicóptero chegar, quando chegam um bando de traficantes e atiram no bom velhinho!! Onde fica a polícia nisso tudo?

Silêncio....
Ao invés de dizer a verdade, que os policiais morrem de medo de entrar no morro, preferi contra atacar:
- Pelo menos no Brasil não há terrorismo!
- Terrorismo?! Vocês atiraram no Papai Noel!! Além do mais, olha essa parte da matéria:

“ As favelas brasileiras funcionam como territórios independentes, com leis próprias e ausência do Poder público. Os policiais temem entrar nessas áreas, mesmo porque os traficantes possuem armamentos superiores”

Triunfante, Michael me diz:

- Você vai me dizer que isso não é terrorismo?

Fazer o que, meus amigos...durma-se com um barulho desses...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Tensões políticas na Bolívia

Ultimamente a situação tem andado bastante delicada aqui por essas bandas bolivianas, ainda mais quando se vive em La Paz, ainda mais quando se vive a 100 metros do palácio do governo.

Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que na Bolívia o buraco é muito mais embaixo quando se trata de política. Aqui este assunto é discutido nos bares, nas casas ou em qualquer lugar, com ardor igual ao de um fla-flu. É normal andar pela rua quando meia dúzia de pessoas, munidas de cartazes e muita revolta, bloqueiam uma avenida e começam a se manifestar, e em alguns minutos outras pessoas se juntam com cartazes improvisados e dão coro ao movimento improvisado. Em menos de 15 minutos, o movimento de apenas 6 pessoas chega a atingir quase 100, no mínimo. Pra quem se acostumou a ficar esperto pra não tomar porrada nos movimentos estudantis no Brasil, foi uma boa surpresa ver que a polícia reagia pacificamente a tudo isso. O grande problema é que as revoltas aqui são tão comuns que o pessoal já meio que se acostumou, e apenas dizem “Ih, mais uma vez pararam a avenida...” e voltam à rotina sem dar muita importância ao que passa.

Pois é, agora coloquem nesse cenário uma série de polêmicas políticas e sociais culminando de uma só vez em um país. A nova constituição foi aprovada (com pontos muito polêmicos) ao mesmo tempo em que outros estados declaram autonomia do governo, com o agravante das tensões acerca da troca de capital de La Paz para Sucre. Junte a isso uma intensa divisão entre brancos e índios, ou índios entre índios, ou altiplano e oriente...enfim, sobram divisões em terras historicamente carentes de unidade. A unidade, como normalmente na América Latina, é imposta pela lei do mais forte ou, mais comumente, do mais rico. A grande questão é quando o povo descobre que não necessariamente as coisas precisam funcionar dessa maneira, e aí o bicho começa a pegar...

De vez em quando aparecem algumas pedras misteriosas que ninguém sabe de onde vem, algumas vezes elas alcançam vidraças, outras vezes pedestres. Por via das dúvidas, a ordem por aqui é de não andar de bobeira pela cidade. O chefe das forças armadas nos pede pra estocar alimentos em grande escala, pois os militares podem intervir não exatamante de forma amigável em caso de revoltas populares. Neste sábado, os mercados estavam cheios de donas de casa comprando todo tipo de coisa, como os americanos que a gente vê na TV quando sabem que um furacão está por vir. Nítido por aqui é que o povo não está de brincadeira, por mais que se fragmente em múltiplas direções.

Começo a pensar um pouco mais seriamente sobre a desorganização da esquerda latino americana. Sobram revoltas e pessoas fortes, falta a organização necessária para que todos gritem em uma só voz. Enquanto toda a direita se une em prol do simples motivo de ganhar mais dinheiro a qualquer custo, vejo uma esquerda fragmentada entre muitas bandeiras, cujos valores são tão grandes quanto suas divisoes. No dia em que os movimentos sociais se unirem sob uma bandeira, poderemos finalmente obter algo definitivamente expressivo política e socialmente.

No meio de toda esta tensão louca está o povo, por vezes ativo e por vezes espectador, porém sempre o mais afetado nestas loucas batalhas de poucos. Os políticos defendem interesses próprios disfarçados de causas populares, o que arrebata uma imensa quantidade de seguidores que apenas são utilizados como massa de manobra. A regra de ouro aqui na Bolívia é encontrar um povo extremamente trabalhador, honesto e disposto a fazer algo de útil por seu país, porém ingênuo ao ponto de acreditar no que alguns “bons samaritanos” lhes dizem em interesse próprio.

Não sou um especialista político e já aposentei minha carreira jornalística, apenas tenho vivido e analisado as coisas como qualquer pessoa por aqui. Vale a pena procurar mais a respeito das tensões na Bolívia, já que a imprensa brasileira praticamente ignora o que aqui parece uma questão de relevância capital. Sugiro que busquem os materiais publicados por uma jornalista chamada Sue Iamamoto, que estão bem fiéis ao que está passando e escritos de acordo com a ótica do camponês boliviano, quase nunca ouvido pelos meios de massa. Ela disse que faria um blog com isso tudo, mas por via das dúvidas utilizem o grande google que tudo pode e tudo vê. Rs

Repenso muito sobre estas questões políticas, e começo a pensar que as coisas realmente podem ser de outro jeito... Já há pessoas dispostas a mudar as coisas, assim como força de vontade para tal. O que falta é reinventar o meio para atingir isso...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

La chica Suiza

Em Uyuni, havia conhecido uma adorável Suíça chamada Jeanine. Na ocasião não ocorreu absolutamente nada, mas depois de muitos papos nos meses seguintes, resolvemos nos encontrar em La Paz. Sempre disse que não falaria de mulheres no blog, mas tudo foi marcante demais para que eu deixe isso em branco.

Como agora trabalho para o Governo, pedi para a secretária ligar para um dos melhores hotéis da cidade e dizer, na maior cara de pau: “Olha, está chegando do Brasil nosso Especialista de Marketing pra prestar serviço ao Ministério de Turismo. Ele vem com sua esposa da Suíça, por isso quer a melhor suíte de vocês. Qual é o desconto que pode ser feito?” Conseguiram para nós uma suíte imensa e cheia de regalias, pagando quase o mesmo que em meu humilde hotel de mochileiros. A recepcionista estranhou ao ver que o especialista em questão mal tinha barba na cara e ainda não havia saído das fraldas, mas no final das contas acreditou em nós de boa, eu acho.

No começo é difícil pensar em compartilhar a vida com alguém de novo, ainda mais depois que se acostuma a fazer tudo sozinho, mas aos poucos redescobri como é bom ter alguém especial do nosso lado. Um dia cheguei muito estressado do trabalho, cuspindo marimbondo e reclamando de tudo, quando chega Jeanine com aquele olhar sutil e intenso que poucas mulheres sabem fazer, se aninha no meu peito com um singelo abraço e diz “Calma, Ricardo...Vamos resolver isso juntos...”. E eis que o panaca aqui simplesmente se derrete, substituindo a cara amarrada por uma inexplicável paz interior. Sempre gostei de resolver tudo sozinho, mas aprendi que tudo pode ser bem mais fácil com coisas muito mais simples, como um abraço.

O complicado é que ela ficaria em La Paz apenas por 6 dias. É como se você fosse ao médico e descobrisse que tinha 1 semana de vida, e por isso aproveita tudo com mais intensidade, não sei se dá pra entender. Vivemos dias muito felizes, sem fazer absolutamente nada de tão especial, apenas vivendo um ao outro. Nos apaixonamos perdidamente, como se por esse breves dias a vida fosse mais simples e fossemos muito fortes, pois agora tínhamos um ao outro.

O grande problema de ser um viajante é que tudo sempre é obrigatoriamente passageiro, incluindo eu mesmo. Os dias passavam e aos poucos nos dávamos conta de que em breve nos separaríamos, para quem sabe nunca mais nos vermos. Ela em breve voltaria para seu país e eu por outro lado não desistiria de meu sonho. Sempre batia no fundo aquela sensação antecipada de despedida, e nenhum abraço era suficientemente forte pra fazer com que o outro não se vá, nenhuma palavra poderia ser dita mais do que no presente ou no pretérito. Se ambos queriam ficar juntos, é bem complicado perguntar porquê tudo tem que funcionar assim. O que passa é que o mundo é muito grande e a vida segue por rumos muito distintos, por isso às vezes simplesmente nos vemos sem muita escolha. Me preparei demais para ter um físico de atleta e um coração de aventureiro, mas os maiores obstáculos da viagem sempre chegam por onde eu menos espero...

Dá pra imaginar como foi o dia da despedida...Lágrimas soltas, abraços infindáveis, beijos emocionados. Quando Jeanine entrou na área do Aeroporto proibida para visitantes, via lentamente seus passos indo pra longe, provavelmente em definitivo. Quando já havia entrado, ela pede ao policial pra voltar até onde eu estava, só pra um último contato. Foi difícil reviver a sensação do último beijo, cheio de lágrimas...Tá, podem dizer que a cena soa como filme Holiwodiano barato, mas algumas coisas simplesmente acontecem sem que a gente pense direito nelas.

Depois da despedida, saí arrasado do aeroporto e entrei no táxi, chorando feito um bebê. Inicialmente o taxista tentou manter a naturalidade e perguntar polidamente para onde eu ia. Respondi gaguejando o meu destino, sem conseguir parar de chorar. Ao ver a cena, ele não se conteve e começou a gargalhar igualmente sem controle, dizendo “desse tamanhão e fica chorando que nem criança, que marica!”. Pois é, digamos que normalmente os bolivianos não são exatamente lordes ingleses...rs No final das contas acabei rindo também durante a viagem toda, e nos divertimos com a situação.

Bom, vou por aqui tentando me reacostumar com minha vida solitária, que por fim eu amo e por isso sei que será mais fácil do que imagino agora. Parto dois corações, um deles sendo o meu, mas em troca ganho a América e seus encantáveis desafios. Por breves segundos de fraqueza me questiono: Uma grande namorada no Brasil, amigos, família, um grande emprego em Nova York, uma paixão arrasadora.... Quantas coisas mais vão testar minha força de vontade? Quantas peças inesperadas aparecerão no caminho?

Sei lá, que venham mais desafios e mais experiências emocionantes. Segui viagem exatamente para isso.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Roda América na Folha de São Paulo!!

Hoje, 03 de dezembro de 2007, saiu a matéria sobre o Roda América na Folha de São Paulo, com fotinha e tudo!! Apesar de não morar em Niterói, e tampouco ter um laptop, gostei da abordagem da matéria.

Ainda não me vejo como dizem na matéria ou nos e-mails que tenho recebido. Sei lá, ainda me imagino como um cara normal que saiu pelo mundo pra realizar um sonho! Rs Minha mãe deve estar adorando ver isso!!!!uahauahauah

Enfim, segue a matéria completa. Espero que gostem:

De magrela pela América
Com uma bicicleta e um laptop, jovem encara sozinho as estradas abertas do nosso continente
Por Luiza Belchior

Troque a moto pela bicicleta e as anotações em papel pelo diário virtual e o carioca Ricardo Martins, 22, se torna o Che Guevara -do filme "Diários de Motocicleta"- dos tempos modernos. Há três meses, largou o emprego fixo, família e namorada pelo sonho de uma viagem de bike pela América Latina.

O resultado da aventura, que Ricardo pretende terminar em Cuba só daqui a dois anos, ele vem relatando, a conta-gotas, em seu blog e videolog.E as histórias que o carioca já coleciona não são poucas: em três meses de viagem, dormiu em acampamento de sem-terras no Mato Grosso do Sul, trabalhou em uma mina de prata na Bolívia, passou dois dias com índios do Pantanal, aprendeu a laçar bois e organizou -e ganhou- um campeonato de sinuca. Tudo isso na companhia de Capitu, como ele batizou sua bicicleta.

Nas entrelinhas das aventuras que relata pela internet, Ricardo posta também lições de vida. Afinal, como ter coragem de jogar tudo para o alto em busca de um sonho? Muita preparação e planejamento, tranqüilidade e até um pouco de medo, ensina o jovem.

"De fato eu tinha uma boa carreira no trabalho, reconhecimento, bom currículo etc. Mas sentia que estava no momento de realizar uma grande aventura", disse o carioca, em entrevista por e-mail.

Ricardo conta que saiu do Brasil, mais especificamente de Niterói, cidade vizinha ao Rio onde ele morava com os pais, com exatos R$ 385,45 no bolso. Por isso, sabia que teria que arrumar bicos pelo caminho para levar a viagem adiante.Só que Ricardo foi assaltado em La Paz, na Bolívia. Chegou a ficar com o equivalente a R$ 10 no bolso até conseguir uma vaga de analista de marketing na Bolívia, posto que ocupará por mais três meses, para conseguir dinheiro e seguir viagem.
"Fiquei com fome, frio e sede, longe de todos os amigos e sem fazer idéia de como superaria mais essa", conta o aventureiro.

"Existem alegrias que fazem chorar ao conhecer tanta gente simples e forte, as descobertas e redescobertas de si mesmo, isso sem contar a incomparável sensação de liberdade que sinto ao pedalar", relata.

Ricardo planeja passar por Peru, Chile, Argentina e Uruguai. A última parada que consta em seus planos é Cuba, onde quer conhecer Alberto Granado, o companheiro do revolucionário Ernesto Che Guevara em uma viagem de motocicleta pela América Latina, relatada em filme por Walter Salles.

E depois? Descubra no próximo capítulo, ou melhor, post.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Pelo retrovisor


Aprendi com o tempo que seguir em frente é algo muito intenso e exige muito foco, por isso nem sempre sobra tempo para olhar pra trás. Na verdade, é menos uma questão de tempo e mais uma questão de medo de ver tudo o que eu deixei, pra no final das contas não agüentar a saudade e voltar...

Hoje tomei coragem e olhei pra trás. Vi uma namorada que me amava e que não mais espera minha volta, amigos de uma vida dizendo que sempre estarão do meu lado, minha mãe escondendo o choro pra não me deixar triste, meu pai machão que não aguentou e chorou, gente que eu mal falava dizendo o quanto se importava comigo. Vejo sorrisos, lágrimas, palavras, silêncios, pessoas que vejo dobrando a esquina sabendo que não as verei por um longo tempo. Olho pra trás e silenciosamente choro, vendo que agora a solidão não é mais uma escolha.

Recordo-me do momento de minha primeira girada de pedal, quando olhava para trás e via cada vez mais minha mãe e minha então namorada se distanciando aos poucos. Sentia vontade de voltar enquanto dava tempo, apenas para dar mais um abraço nas duas mulheres de minha vida, para então seguir em frente mais uma vez. Pensei que eu faria isso repetidamente por dias a fio, por isso apenas virei a cabeça em direção à estrada e pedalei juntando toda a coragem que tinha. Pedalei e chorei, como talvez jamais tenha chorado em toda a minha vida. No primeiro dia a saudade foi insuportável, na primeira semana também, mas depois a mente se educa e apenas olha pra frente.

Como disse em minha última mensagem neste blog, muita gente tem visto em mim um exemplo de força e etc, e escrevo isso agora também para mostrar o quanto posso ser fraco também. Puxa, estou cansado de ser forte, cansado de ser firme, cansado de não me cansar. Aproveito um breve instante para conceder-me o direito de fraquejar um pouco.

Encerro aqui este momento de fraqueza, enxugando as lágrimas e voltando a olhar pra frente, vendo que na verdade tudo não é tão mal assim. Sabe, vejo que perdi muito para em troca ganhar muito mais, por isso vale a pena segurar a saudade pelo tempo que for necessário. Fiz novos amigos, aprendi a ser uma pessoa mais simples, vivo com mais intensidade todas as coisas, vi cenas que me fizeram chorar de felicidade e de comoção... Enfim, vivo coisas novas, o que seguramente vão fazer de mim uma pessoa à altura de tanta gente que deixei para trás.

Amigos, família, todos, saibam que não mais olho para trás para buscar a todos vocês em minha escassa memória. Olho pro lado ou olho pra frente, pois sei que todos estão comigo onde quer que eu esteja e onde quer que eu vá, e que em cada pedalada encurto os caminhos de minha chegada.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Pequeno desabafo...

Tenho recebido quase que diariamente montões de e-mails de internautas de todo o Brasil. Alguns me xingam de coisas sem sentido, alguns me idolatram por coisas igualmente sem sentido, enfim... Embora sabendo que isso tudo faz parte, confesso que não me acostumei com essa história.

Alguns me pedem conselhos amorosos, profisisonais ou até mesmo me perguntam como fazer para realizar o próprio sonho, como se eu fosse uma espécie de sábio da montanha! Gente, sou apenas uma pessoa comum que resolveu ir atrás de um sonho! Não tenho as respostas, nem mesmo as perguntas. Apenas vivo a vida, simples assim.

O Roda América não é uma religião, não creio em Deus. Imaginem que é uma aventura emocionante ao redor da América, ao redor de mim mesmo. Creio que haja tantas distâncias entre o Brasil e Cuba quanto entre eu e eu mesmo. Gosto de me redescobrir, mas isso não quer dizer que eu seja mais feliz ou mais sábio do que qualquer um! Puxa, é tudo mais simples do que parece.

Galera, não é necessário ir pra onde o Judas perdeu as botas pra se encontrar! Esse é o meu sonho, estes são os meus desafios! Vejo iguais desafios em alguém que abre o próprio negócio, tem uma família feliz e etc. Puxa, se mirem nos próprios exemplos e verão que todos somos sábios, filósofos e grandes aventureiros, cada qual à sua maneira.

Não, não vou fundar uma religião, não criei uma nova forma de ver a vida, não faço idéia do sentido da vida, não sei o que é necesário para viver feliz. Pra dizer a verdade sei de muito poucas coisas, por isso as busco com tanta intensidade. Por favor, não tentem me complicar. Sou apenas um cara simples, sem misticismos, sem filosofias mestras de vida ou qualquer coisa do tipo. Não sou guru de ninguém, nem de mim mesmo.

Já que tanto me perguntam sobre filosofias de vida ou porque faço tudo isso, não tenho respostas muito longas: Sonho, planejo e executo, vivendo intensamente cada uma destas etapas.

domingo, 18 de novembro de 2007

Proposta de emprego em Nova York

Como todos sabem, trabalho em uma empresa americana. Hoje o dono da empresa me ofereceu uma proposta para trabalhar na sede, em Nova York... Um baita salário (baita mesmo), greencard depois de 6 meses e etc. Além do mais, é um trabalho nas terras do papas do marketing, o que seguramente dá uma excelente bagagem em nível global.
Pois é...não aceitei...pois em troca teria que jogar meu sonho fora.
Poucos entendem isso, mas tomei esta decisão com muita segurança. Sabe, saí do Brasil em busca de um grande sonho, não para ficar rico! Puxa, me sinto feliz e plenamente realizado, e isso não é graças ao dinheiro, mas sim ao fato de que estou realizando o meu sonho.
Mãe, pai, família, desculpas...sei que posso ter decepcionado vocês ao deixar de optar por um futuro aparentemente tão promissor, mas sei que vocês conhecem o filho que tem, e por isso sabem que eu não teria outra atitude. Entre o dinheiro e um sonho, fico feliz por ter escolhido a segunda opção, e sei que um dia terão orgulho de mim por ter feito isso...
Sei que receberei vários e-mails, com metade das pessoas dizendo que eu sou um idiota sonhador, outra metade dizendo que isso é super legal e que esta história daria um filme. Sinceramente acho que os dois lados tem razão em parte, mas sempre digo que detesto rótulos. Penso apenas que sou alguém que busca estar bem consigo mesmo, e nada no mundo para essa sensação...


Penso que o separa sonhadores de utopistas é o foco e o esforço constante, por isso sei que consigo chegar onde quero, mesmo que para isso eu perca oportunidades como essa...

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Casa & Vídeo

Sei que normalmente minhas postagens são para descrever aventuras, mas agora faço uma pausa simplesmente para agradecimentos. Amigos, vocês foram e são muito importantes para mim, e espero com esta mensagem retribuir um pouco de tudo o que vocês fizeram por mim.

Fico feliz em ter trabalhado aí com todos. Agora que estou aplicando meus conhecimentos em outros mercados e outras empresas, vejo o quanto o meu aprendizado por essas bandas foi fundamental para mim. Me ensinaram tudo o que eu precisava sem me pedir nada em troca, além de aplicação e pratica depois. Quando eu estava dando consultoria em Uyuni e em Potosí, apliquei muito do que aprendi com vocês sobre como lidar com pessoas, e digo que depois disso me consideraram quase um genio por aquí. É claro que apliquei algunas cositas que eu mesmo criei (depois conto, muitos novos conceitos legais), mas pude conferir de perto o quanto a C&V utiliza ferramentas modernas e perfeitamente aplicáveis ao dia-a-dia. Sim, as politicas de RH da C&V sao bastante avancadas, e agora tenho mais bagagem para afirmar isso com mais propriedade. Puxa, eu estava mais capacitado do que imaginava.

Sabe, vocês mal imaginam o quanto foram e são importantes para mim. Por essas bandas amarelas aprendi muito, vivi feliz, formei grandes amigos…o que mais eu poderia querer? Com certeza seguirei como um pequenino Guerreiro Amarelo pelo mundo, pois o que vivi aí nao sai da pele e da mente tão facilmente.
Não satisfeitos em contribuir comigo por tantos anos, após a minha saída ainda obtive muito carinho de todos! Sempre há alguém perguntando se eu preciso de algo, querendo saber se eu estou bem e etc...Fico mito emocionado com isto, mesmo. Ainda fico me perguntando como posso retribuir a tanta coisa que tenho recebido de vocês.

Amigos, deixo aqui o meu sincero MUITO OBRIGADO!

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Videolog

Todos devem saber que algum , ahn...f'ã...pegou a minha senha do videolog e resolveu apagar todos os meus vídeos. Agora postei tudo de novo, pois tinha feito um backup, mas peco desculpas pelo sumiço temporário dos videos.

Coloco abaixo o texto que fizeram sobre mim (ou sobre o Roda América, sempre me confundo com esses dois personagens. rs) no blog da equipe do Videolog. Nenhum dos fatos decorridos de fato aconteceu (antes que todos mandem mais e-mail preocupados e etc. rs), mas vale pela grande criatividade e boa forma de escrita do autor.

Segue o texto:

É isso que eu falo, é melhor ser um covarde vivo do que um herói morto. Vocês devem lembrar do nosso estimado Ricardo, que decidiu largar tudo e ir passear de bicicleta pela América do Sul, pra voltar e a) escrever um livro de auto-ajuda sobre “meditar pedalando”, b) fundar uma religião ou c) iniciar uma série de palestras sobre o tema “O monge e o ciclista: pra aguentar sete horas sem sair de cima de um selim, só sendo monge mesmo”. Então, ele nos enviava regularmente seus vídeos por terras nunca dantes pedaladas. Porém, o malandro resolveu dar uma passadinha pela Venezuela. Aí a coisa azedou: o William Wallace tupiniquim foi se meter a besta e não só participou como organizou, enchou as bolinhas azuis e brancas e comprou rolos e rolos de serpentina para uma passeata contra o Hugo “foi sem querer querendo” Chavez. E lá já sabe como é, o coro comeu o pau cantou. Botaram o rapaz no pau-de-arara, deram choque em partes menos pudendas de sua nobre anatomia,e ainda confiscaram seus vídeos, o obrigando a retirá-los do nosso site. Porém, sob promessas de não fazer mais piadas com o sobrenome do ditador cucaracha comparando ele com o personagem do SBT, o rapaz foi liberado. Os vídeos haviam sido apagados, maaaas, com bom morador de país que já teve ditadura, ele escondera um DVD com o backup dos vídeos em uma parte, digamos, obscura e de difícil acesso da sua ainda não tão mais nobre anatomia. E depois dessa epopéia, ele está de volta! Dizem por aí que ele agora anda com bottons e camisas pró-Chavez, mas são notícias ainda não confirmadas. Sabe como é, cachorro mordido por cobra tem medo até de linguiça. E ele tá pensando também em comprar um pendrive pequenininho. Deve doer menos pra esconder, caso ele queria dar uma passada em Cuba…



para detalhes, segue o link do blog da equipe do Videolog:
http://videolog.uol.com.br/blog/?user=blog

domingo, 4 de novembro de 2007

Novos rumos da viagem


Agora estou em La Paz, trabalhando numa consultoria americana por 4 meses. Alguns podem pensar que a saga pela América termina por aqui, mas quem me conhece de fato sabe que este é apenas um upgrade do Roda América, ou mais uma gostosa mudança de planos.

Como sabem, fui roubado e perdi todo o dinheiro que havia juntado trabalhando na Bolívia. Com o novo salário, poderei reconstruir minhas finanças para poder seguir em frente. Aconteça o que for, o Roda América segue firme e forte, afinal creio que sonhos existem para serem realizados. O foco não mudou, apenas o meio de chegar até ele.

Aproveitarei esta temporada para aprimorar meu inglês, já que na empresa onde agora trabalho só se fala este idioma. Também precisarei retomar a rotina de treinamentos pesados de musculação e spinning todo dia. Ah, e além de tudo estou aprendendo a tocar gaita, pois é um instrumento fácil de carregar que pode preencher as solitárias noites na estrada.

Um novo emprego, inglês na ponta da língua, mais resistência física, um novo instrumento musical...Me parece que tenho novos desafios por aqui. Novas características, aprendizados e vivências estão sendo adicionadas a este novo Ricardo que se forma a cada dia. Mal vejo a hora de seguir de novo com minha fiel escudeira Capitu, mas dessa vez há uma nova maneira de seguir viagem...

Meu emprego em La Paz


Embora eu estivesse em absoluto desespero por algum emprego, tentei manter a calma para seguir em minha entrevista de emprego. Para quem esperava trabalhar limpando privada, a oportunidade de poder trabalhar com a cabeça, além de tudo numa grande empresa, não me parecia nada mal.


A empresa se chama “Michael Warmack consulting”, é americana e presta serviço ao governo boliviano para o desenvolvimento turístico local. A vaga era para trabalhar como analista de marketing, para construir desde o zero a “marca Bolívia” para os turistas, par enfim melhorar o fraco desempenho turístico do país. Qualquer um que trabalha com marketing de verdade sabe que é um sonho poder construir uma marca do zero, ainda mais se essa marca é um país inteiro!! O emprego que eu sempre quis estava em minha frente, com o agravante de que eu estava prestes a ficar sem dinheiro pra comer, mas mesmo assim eu precisava dar um jeito de mostrar apenas que eu era um bom profissional, e que por isso eles teriam a grande oportunidade de me contratar. Bom, foi exatamente o que eu fiz.

Eu sabia que tinha boas vantagens, pois tinha experiência e formação em marketing e também havia trabalhado para treinar pessoas para turismo em duas cidades do Bolívia, o que fazia de mim um profissional extremamente especializado para a vaga. Além de tudo, a pessoa para quem eu trabalhei em Uyuni era amigo da mulher que me entrevistava, por isso ligou para dar boas referências do meu trabalho. O problema é que eu competia com marketeiros dos Estados Unidos, o que teoricamente me qualificava em uma escola acadêmica menos reconhecida mundialmente, além do que com isso eu era o candidato com o pior inglês. Bateu aquela insegurança, mas felizmente consegui!! A vaga era minha enfim.

De fato até em minhas previsões mais otimistas eu esperava ir tão longe, embora me visse plenamnte capaz para isso. Para os padrões brasileiros, o salário é algo um pouco mais do que mediano, mas faz de mim quase um magnata boliviano. O contrato é de 4 meses, tempo pra juntar dinheiro novamente para seguir viagem.

Entrevista de emprego em La Paz - Como tudo começou


Depois de muito rodar em La Paz em busca de algo, finalmente consigo minha primeira entrevista de emprego na cidade. Tudo começa com mais uma história do fabuloso arquiteto francês Christian, o mesmo que deu o contato com Alberto Granado em Cuba.


Estávamos jantando Christian e eu em Uyuni, quando eu disse que talvez precisasse arrumar emprego em La Paz, o que deu margem para que ele começasse me contar mais uma de suas histórias pela vida afora: Há alguns meses ele estava em um bar em La Paz, quando viu uma moça muito bonita, de mais ou menos 30 anos (lembrando que ele tem 62)sentar-se sozinha. No momento ele já tinha suas famosas duas namoradas de 27 e 31 anos, mas gostava acima de tudo de seduzir, como um típico francês, por isso resolveu se aproximar para contar suas histórias pelo mundo. Depois de finalmente convencer a mulher para que ambos saíssem juntos no dia seguinte, eis que Christian simplesmente falta ao compromisso, sem dizer nada. Bom, onde eu entro nisso tudo? O que passa é que Christian resolveu me usar de bucha de canhão, já que eu precisava de contatos em La Paz e ele precisava sair bem disso tudo. Me disse “ Encontre com ela e diga que minha irmã morreu, por isso tive que tomar um vôo às pressas para Miami, e nem pude avisar nada...”, e dito isso me deu o cartão da moça. Com a cara mais lavada do mundo, foi exatamente o que fiz ao chegar em La Paz.


A mulher, que de fato era muito bonita, ficou super sensibilizada com a morte da irmazinha de Christian, e perguntou quando poderiam se ver de novo, coitada. Junto com o meu recado, me apressei a dizer que havia trabalhado para ele em Uyuni, e que agora procurava algo na cidade. Ela me disse que tinha uma amiga que precisava de um analista de Marketing, e que daria um jeito de marcar uma entrevista de emprego para mim. Acabou que a mulher e eu agora somos bons amigos, o que me levou a não me conter e finalmente desmentir a história que havia contado... Ela acabou rindo muito de tudo, e ainda gostando do entrépido arquiteto devido ao meticuloso estratagema criado somente para não magoá-la! Tá, isso continua sendo uma baita baboseira, mas ao menos agora eu não tinha mais parte nisso.


Entre tantas histórias, eis que finalmente consigo vislumbrar uma saída para meu perrengue em La Paz. Agora é ver no que vai dar...

sábado, 3 de novembro de 2007

Apuros em La Paz...

Inicialmente eu havia dito que haviam apenas roubado meu celular, mas agora posso confessar que disse uma pequenina mentira, apenas para não deixar a todos preocupados. Além do celular, roubaram meu dinheiro, quase todo ele. Não sei como, mas sabia que conseguiria me virar, por isso deixei para dar a notícia apenas quando estivesse com tudo resolvido.


Todo o dinheiro que eu havia juntado trabalhando em Uyuni e Potosi foi por água abaixo. De repente me vi longe de casa, sem amigos, família ou conhecidos por perto, com apenas o equivalente a 50 reais no banco. Digamos que minha atitude inicial não foi exatamente a de um aventureiro destemido, pois eu apenas conseguia sentar no banco de uma praça e chorar feito um bebê, mas precisava recobrar o ânimo em breve... Não gostava da cidade, da gente, mas precisava dar um jeito de me adaptar e superar tudo, pois apenas disso dependia a minha sobrevivência.


No dia seguinte acordei bem cedo para buscar feito um louco algum trabalho. Saí pelas lojas da cidade e também mandei e-mails para todos os meus contatos profissionais da Bolívia, estando plenamente disposto a trabalhar com marketing, treinar mais pessoas, servir café, limpar privada, o que fosse. Amigos, confesso que pela primeira vez na viagem tive medo de não conseguir seguir em frente, pois agora dois dias haviam se passado e eu continuava na estaca zero, sendo que meu dinheiro duraria no máximo por mais 5 dias, com o agravante de aqui em La Paz as coisas são um poucos mais caras e também não se pode acampar. Por alguns dias fiquei no alojamento mais barato que encontrei, mas depois por sorte encontrei um hotel de ingleses que acabava de ser inaugurado, por isso faziam um preço promocional por uma semana de apenas 1 dólar por dia, com direito a café da manhã, salão de jogos e internet. Agora estavam temporariamente resolvidos os meus problemas de alojamento e café da manhã, mas eu ainda precisava descobrir como fazer para obter as outras refeições do dia.


Encontrei no mesmo dia uma brasileira, que como toda nossa gente é muito, mas muito especial mesmo. Ela se chama Neiva, e tem por aqui um restaurante de comida brasileira. Disse que não poderia me dar algum emprego, pois o governo cobrava uma multa alta se ela não empregasse bolivianos, mas que tentaria me ajudar no que pudesse. Disse que eu poderia comer no restaurante dela sempre que precisasse, sem pagar nada. Tá, me ajudar a não passar fome já é uma ação de grande compaixão, que sinceramente me emocionou, mas ela fazia tudo isso com extrema boa vontade e carinho: Além do almoço, me oferecia acompanhamentos, sucos a até mesmo a sobremesa! No final das contas comi no restaurante apenas uma vez, pois respeito o trabalho dela e por isso utilizaria esta opção apenas em última necessidade, mas puxa, que grande mulher eu encontrei no caminho. Brasileiros, brasileiros...Quando eu acho que já os amo o suficiente, eles sempre dão um jeito de me surpreender...


Quando cheguei ao ponto de ter no bolso somente o equivalente a 1 real, digamos que comecei a pensar em atitudes um pouco menos ortodoxas. Passei em frente a um bingo e pensei “opa, vai que a sorte me ajuda!”, pegando algo como 15 centavos pra apostar na máquina caça-níqueis, me sentindo o próprio mocinho em apuros de Holywood. Infelizmente o mundo real é mais duro do que os filmes americanos, por isso o aventureiro aqui se deu mal dessa vez. Agora eu tinha 15 centavos a menos no bolso, que com certeza me fariam falta. Enfim, eu precisava ao menos tentar.


Cheguei pela noite no hotel com cabeça fervilhando de tanto pensar, quando uma idéia não exatamente brilhante, mas a única que eu tive, me apareceu: Meu hotel tinha mesa de sinuca!! Caramba, eu tinha sinuca em casa, por isso poderia ter chance se apostasse com os outros turistas! Acordei no dia seguinte às 6 da manhã e fiquei treinando até o anoitecer, sem parar nem pra comer. Pela noite apostei meus últimos centavos, jogando sinuca como se disso dependesse minha vida. Desta vez as coisas deram mais certo pro meu lado, pois ao final do dia consegui transformar meus centavinhos em algo como 10 reais de novo. Perdi, mas sobretudo venci a quase todas as partidas, e fiz o mesmo no dia seguinte, mais uma vez treinando feito um louco. Amigos, a sobrevivência pode transformar a qualquer um num verdadeiro Rui Chapéu. Minha idéia com a sinuca havia sido bem sucedida, mas eu sabia que era um risco muito grande viver de jogos. Mas enfim, ao menos agora eu ganhava mais tempo pra pensar em mais algo.


As idéias iam acabando, a grana também. Não sei explicar como, mas eu ainda me sentia estranhamente calmo e razoavelmente confiante! Amigos, sabe se lá como, mas as coisas dão certo pra quem corre atrás e tem força de vontade, e estes dois fatores eu sabia que tinha de sobra. Falei com a minha mãe pela internet, mas aí a resistência emocional foi por água abaixo. Eu chorava muito, mas era muito fácil esconder isso sem se falar ou se ver , por mais que eu ache que ela notou que eu tava na merda, ela sempre sabe de tudo, incrível. Não disse que precisava de qualquer coisa, apenas disse que em breve eu poderia ter boas notícias, embora eu não soubesse quais seriam elas.

sábado, 20 de outubro de 2007

Nota de indignação


Há poucos dias descrevi um homem sendo brutalmente assassinado em Uyuni, dizendo com indignação o quanto isso tudo é cotidiano para nós brasileiros. Para comprovar isso, digo que apenas recebi e-mails de curiosos que me perguntavam se havia rolado algo mais com a mulher da Suíça ou não.

A QUEM INTERESSAR Nº 1

A mulher suíça é apenas uma grande amiga. De fato dormimos no mesmo quarto, porém qualquer pessoa que viaja com mochileiros sabe que as habitações são com umas 10 camas normalmente. Portanto, dormimos eu, a Suíça e outros tantos turistas, mochileiros como nós.

A QUEM INTERESSAR Nº 2

O Boliviano morto se chamava Leonardo Muñoz, que tinha uma esposa apaixonada e duas filhas lindas chamadas Wendy e Blanca. Leonardo Foi morto porque devia uma quantia equivalente a 48 dólares.

Uma vida por aqui pode valer apenas 48 dólares, amigos. O seminário que eu ministrei em Uyuni, de apenas 4 horas, vale mais do que os 32 anos interrompidos da vida de Leonardo.

La Paz - stress e roubo de celular

BolíviaLa Paz, 19 de outubro de 2007.


Ao final da tarde cheguei à capital boliviana, sem grandes dificuldades. Entre Oruro e La Paz, vi pela primeira vez a já então esquecida combinação de estradas planas e asfaltadas! Dias muito tranquilos, portanto.

À primeira vista La Paz é uma cidade linda, com o Illimani cheio de neve a ilustrar a cidade, bem como uma curiosa mescla de ares incaicos em lares industriais. É uma cidade muito desenvolvida (até demais para mim), por isso sofre do mal das grandes metrópoles: Engarrafamentos, mendigos, ruas lotadas de gente que te esbarra sem pedir desculpas, prédios altos, barulho e etc. AAAAAAAAAAHHHHHHH!!!!!! rs. De quebra, ainda roubaram meu celular! Talvez por solidariedade, para me fazer lembrar de meu querido Rio de Janeiro.

Agora sei como se sente um caipira que resolve visitar a cidade grande. É claro que eu deveria estar acostumado com um ambiente tão urbano, afinal sou carioca, mas estive por muito tempo visitando lugares muito mais isolados e pessoas muito mais simples. Buzinas, gritos, música ruim, carros e muitos outros barulhos entravam simultaneamente em minha cabeça, de modo a me fazer entrar num estado de stress, ou faniquito, sei lá.

Resolvi caminhar mais um pouco então para ver se nesta cidade tão civilizada havia de fato algum sinal de civilização. Pedia informações e sentia que interrompia vidas apressadas, mendigos pediam dinheiro com cara de choro sem lágrimas, ambulantes me ofereciam coisas das quais não necessito, pessoas me olhavam com admiração ou espanto e etc... Por aqui chamam os índios de selvagens, mas creio que meu padrão do que é de fato ser civilizado seja bastante diferente do deles, pois eu não trocaria um mineiro de Potosí por mil das pessoas apressadas de La Paz.


Definitivamente, terei de me adaptar ao ritmo de La Paz. Não muito, pois confesso que gosto mais de minha nova maneira de viver os lugares, as pessoas e a vida. Mesmo com tudo isso, imagino que eu vá encontrar por aqui pessoas amáveis ou lugares onde de fato eu me sinta bem, bastando apenas que eu tente olhar a cidade com outros olhos.

Liberdade na forma mais pura

BoliviaOruro, 18 de outubro de 2007.

Em toda minha vida estive atrelado a compromissos cotidianos: Estudar para passar de ano, depois estudar mais para entrar numa boa escola no ensino médio, mais ainda para entrar numa boa faculdade. Após isso, é necessário batalhar por um bom emprego, depois crescer nele pouco a pouco. Depois disso tudo, é necessário pagar o gás, a luz, o aluguel, a vida, tudo.

Pela primeira vez na vida me sinto confortável o suficiente para fazer exatamente o que quero e da forma que bem entender, e nada paga esta formidável sensação de liberdade. As escolhas, bem como as consequências, são todas minhas, o que me dá uma boa sensação de liberdade com responsabilidade. Posso com isso me preocupar apenas em viver a vida intensamente, sem grandes cobranças.

Mais do que o estável, me encanta o incerto; mais do que das metas, gosto dos fatos; mais do que saber com quem estou, prefiro estar bem comigo mesmo. Este é um padrão de vida um pouco louco para muitos, mas sei que todos compreendem que estou bem assim. Se eu pensar desta maneira, o mundo consegue ser para mim ao mesmo tempo o maior e o menor dos lugares.

Sem me dar conta antes, percebo que falo de países como quem fala dos cômodos de sua própria casa, mas não é muita diferente! O mundo agora é minha casa. Redonda, bem espaçosa e repleta de pessoas com quero estar. No final das contas, o mais importante não é exatamente em que cômodo de minha nova casa estou, contanto que esteja exatamente onde quero estar: “Acima de meus sapatos e debaixo de meu chapéu”, como dizia Oscar Wilde.

sábado, 13 de outubro de 2007

Novidades, muitas novidades

Amigos,
creio que ao ler as novidades do blog vocês entenderão o porque de mais um sumiço nas postagens. Creio que esta foi a fase com mais mudanças de planos e situações marcantes de minha aventura pela América do sul.

Trabalhei na mina, joquei futebol, vi um homem sendo assassinado, joguei golfe em campos de sal, putz, muita coisa, só lendo!

As duas novidades principais:

1 - Agora estou trabalhando temporariamente como consultor de marketing na Bolivia. Agora Virei palestrante internacional! Fiz um video e postei, senão ninguém iria acreditar em mim

2 - Muidei drasticamente de plano: Vou pedalando RUMO A CUBA! Além do mais, consegui arrumar tudo para passar uns dias com Alberto Granado, melhor amigo de Che Guevara (se não conhecem, vejam "Diários de motocicleta")

Bom, espero que gostem tanto de ver estas novas aventuras quano eu gostei de vivê-las. Agora tá tudo atualizado: Fotos, videos e textos.

Um grande abraço!!

Ricardo Martins

Saudades, saudades, saudades...

Bolívia – Uyuni, 11 de outubro de 2007.

Mais uma vez tenho que fazer uma série de despedidas ao sair de Uyuni. Sei que algo paradoxal, mas me sinto psicologicamente, porém emocionalmente fraco.

Para um viajante como eu não existe até logo, apenas Adeus. Tá difícil de lidar com isso....

Vi um homem sendo assassinado

Bolívia - Uyuni, 10 de outubro de 2007.
Depois de ter passado a noite com uma amiga suíça, saíamos de um barzinho quando vimos um homem sendo brutalmente assassinado a poucos metros de nós. Não sei se me espantei mais com a cena ou com o fato de já estar acostumado com a violência, pois venho do Rio de Janeiro.

Ao sairmos, havia um homem deitado no chão da rua, se movendo com certa dificuldade. Uma caminhonete passou por ele com as quatro rodas, uma delas pela cabeça, de uma só vez. O carro fazia a volta e se preparava para passar uma vez mais sobre o corpo agora não mais se movia. Olhava para expressão do motorista para buscar o que ele sentia ao matar uma pessoa assim tão brutalmente, mas não vi medo, raiva, remorso ou qualquer coisa que possa fazer desta pessoa um ser humano.

Levei apressadamente Janine, minha amiga suíça, ao bar novamente, para evitar choque maior do que já era e também por medo de perigos maiores para nós dois. 15 minutos depois voltei ao local e não havia mais corpo algum, apenas no chão um boné, muito sangue a um hambúrguer comido pela metade. Se o homem estava comendo hambúrguer, perguntei ao homem da barraca e aos dois clientes o que havia ocorrido, quando fiquei muito espantado ao obter como resposta apenas algo como “que homem? Que carro? Não vi nada!”. Pelo visto a lei do silêncio não é algo exclusivo de nós brasileiros.

Janine não parava de chorar. Era como se ela se sentisse uma princesa vivendo em um mundo protegido chamado Suíça, descobrindo que não era uma princesa e tampouco o mundo era como seu país. Se perguntava como a vida de alguém poderia valer tão pouco, como era possível que nada fosse acontecer com o assassino depois e etc. Muito difícil constatar isso, mas situações como esta e impunidades do tipo são naturais para mim. Fomos para o hotel e mal dormimos, pois ela chorava até o amanhecer, se perguntando quando sairia da Bolívia e quando tiraria a aquelas imagens de sua cabeça.
Eu tampouco consegui dormir, porém não por ter a imagem do assassinato em minha mente. Estou extremamente incomodado por ter essa situação como cotidiana! Não, não posso ter isso como algo tão natural! Me sinto tão desumano quanto quem mata, pois de certa forma posso ter sido conveniente com tudo isso ao decorrer de minha vida, justamente por achar tudo isso normal. Sei que todos aí podem pensar que estou exagerando ou que sou um insensível, porém peço que reflitam para ver se de fato o mesmo não ocorreria com vocês. Se para mim, que sou um pacifista convicto, passou isso, imagine para alguém apenas ligeiramente mais, digamos, enérgico.

Salar de Uyuni, lagunas e demais paraísos

Bolívia – Uyuni, 10 de outubro de 2007.

Finalmente depois de ter conseguido a grana necessária para fazer o tour, volto após ter conhecido o Salar de Uyuni, as lagunas verdes, coloras e etc, geisers, águas termais, entre muitos outros lugares que demonstram o quanto a natureza é simultaneamente forte e bela na Bolívia.

Tudo é tão lindo que soa quase como surreal. Eu olhava para cada paisagem e mal acreditava no que via, tirava uma foto e constatava que as lentes apenas captavam algo extremamente belo. Até tirei fotos, mas creio que o que passa por aqui só pode ser captado por quem vê. Lagoas verde, branca, vermelhas e de muitas outras cores que sequem sei o nome, contrastadas com montanhas de outras tantas cores, céus de muitas formas, areias límpidas, com flamingos e “zorros” caminhando sobre as águas. Não sei quantas variações de cores nossos olhos podem enxergar, mas penso que quase todas elas vi por aqui.

À parte de tudo isso está o salar de Uyuni, sendo que desta vez o principal diferencial não está nas cores. Porém, devo dizer que meu trabalho para mostrar o que vejo foi até mais difícil! O silêncio é o que mais nos fala por essas bandas, pro isso me perguntava: Como fotografar o silêncio? Fiquei por alguns minutos apenas escutando o que o silêncio tinha a me dizer, e digo que a melhor música que já ouvi foi esta, sem palavras, sem melodia, sem som.

Tenho vontade de escrever páginas e mais páginas somente para descrever o que o e senti, mas creio que seria uma grande perda de tempo fazê-lo, pois ainda não encontro palavras para descrever tudo com exatidão. Vulcões cuspindo vapor pela terra, lhamas, banho em águas calientadas por vulcões, “pores” do sol... Como me sinto pequeno ante tanta imponência natural.

Ao final do dia pensava no que mais havia me encantado, porém constatei que mais uma vez estava perdendo meu tempo. É como tentar eleger a mulher mais bonita do mundo: Algo impossível, pois todas são belas, cada qual a sua maneira e com algo de especial.

Mudança de planos: VOU PRA CUBA

Bolívia – Uyuni, 08 de outubro de 2007.

O responsável do hotel para onde eu estava fazendo consultoria estava construindo um campo de golfe no Salar de Uyuni, obviamente inteiramente de sal. O responsável pelo projeto era um arquiteto francês chamado Christian Pensu, um cara muito bacana, que depois de alguns dias tornou-se um grande amigo, compartilhando comigo suas divertidas historias ao redor do mundo. Como ele estava fazendo o único campo de golfe de sal do mundo, me ofereci para tirar fotos do local para que ele as enviasse aos principais periódicos de golfe, o que renderia uma ótima publicidade para o local. Agora estou em meu segundo emprego na região, que basicamente consiste em tirar fotos e também fazer algumas pirâmides de sal no campo de golfe.
Como ele conhecia praticamente todo o mundo em seus 62 anos de vida, perguntei de qual país ele mais havia gostado, quando ele me respondeu que Cuba é sua grande paixão, assim como sua atual esposa cubana. Disse a ele que tinha o grande sonho de conhecer Cuba, e que este seria o meu próximo destino após minha viagem atual, por isso pedi para que ele me contasse absolutamente tudo sobre este inusitado país. Entre as histórias, descobri vendo algumas fotos que o testemunho de casamento dele havia sido ninguém mais ninguém menos do que Alberto Granado, melhor amigo de Che Guevara.

Christian disse que teria um enorme prazer em mandar um e-mail para seu amigo Albertito, perguntando se eu poderia passar uns dias em sua casa em Havana quando visitasse Cuba, tendo dois dias depois uma resposta positiva. Além disso, Christian me passou uma lista imensa de telefones e endereços de seus amigos em Cuba, para que não me faltassem lugares para dormir enquanto estivesse por lá. Juntando todos estes fatores, mais a oportunidade de realizar simultaneamente os sonhos de conhecer Cuba e de pedalar pela América, não é muito difícil de prever qual foi a minha decisão: VOU PRA CUBA!!

Vou seguindo até Lima, porém não vou mais rumo à Argentina. Agora vou seguindo passando pro Equador, Colômbia e Venezuela, para depois pegar um barco e fazer uma volta de bicicleta pela ilha comunista. De lá não sei para onde vou, e sinceramente nem quero saber. Posso resolver ir ao México, pegar um avião para a Lima e continuar o trajeto antigo ou até mesmo ver que estou satisfeito o suficiente para voltar ao Brasil. Vou para onde eu quiser, por onde eu achar que estarei feliz.

Mãe, pai, amigos, família, todos: Não sei quando volto, mas saibam que estou bem. Sei que tudo isso parece uma grande loucura, mas tenho feito o que meu coração manda, e não tenho me arrependido por isso.

Trabalhando como consultor de mkt em Uyuni

Para levantar a grana pra fazer o tour, resolvi inicialmente ir a todas as agências de turismo da cidade, para ver se havia alguma maneira de pagar o tour com o meu trabalho. Dizia que não necessitava de dinheiro nem nada, apenas de um lugar para dormir e montar a barraca, mas mesmo assim não tive sucesso.

Pela noite minha sorte mudou. Acabei chegando até Juan Quesada, um dos caciques da cidade, que tem uma rede de hotéis na região e uma agência de turismo também. Inicialmente Juan me disse que não tinha muito para eu fazer por ali, mas que havia gostado da atitude de pedir trabalho e não dinheiro, por isso no dia seguinte veríamos qual seria meu novo emprego. Como o hotel onde eu estava custava 50 dólares, enquanto os outros da região custavam no máximo 3, ele apenas me cedeu um canto numa sauna desativada e empoeirada para dormir, o que pra mim já estava bom até demais. No primeiro dia trabalhei como jardineiro e carregador de areia, justamente para a obra da saúda onde eu dormia.

A cidade estava sem luz neste dia, sendo que a prefeitura havia avisado que teríamos mais 2 dias de apagão. Sem luz não há como bombear a gasolina para os carros, o que deixou a cidade absolutamente parada, pois Uyuni basicamente sobrevive dos passeios que são feitos pela região. Ao ver os turistas loucos por vir de tão longe e ter de retornar, assim como os donos de agências loucos por perder tanta grana, imaginei que se eu conseguisse resolver o problema de combustível minha sorte poderia mudar. Me pus a pensar um bocado até chegar à solução mais simples, porém que ninguém havia pensado.

Como Juan tinha uma agência de turismo em Potosi, sugeri que ele trouxesse uma de suas caminhonetes lotadas de gasolina para cá, pois as agências estavam perdendo muito dinheiro pela falta de gasolina, o que basicamente quer dizer que ele a venderia ao preço que bem entendesse. Tá bom, isso é capitalismo selvagem, mas foi uma ótima oportunidade para movimentar novamente o turismo da região, além de mostrar para Juan que eu poderia ser melhor trabalhando com a cabeça do que com os braços. Depois disso, disse para Juan que no Brasil trabalhava com marketing e treinamento de pessoas, por isso lhe ofereci uma proposta de Assessoria de Marketing.

Estruturei uma boa proposta de treinamento de funcionários para atendimento ao cliente, o que é o ponto mais fraco dos hotéis daqui, seguido de um pequeno plano de endomarketing pra garantir o bom resultado dos treinamentos, algo como planos de incentivo, motivação e etc. Inicialmente treinaria apenas os funcionários do hotel onde eu estava, mas gostaram tanto da idéia que resolveram expandir a proposta para toda a rede! Agora, apenas no meu segundo dia, fui promovido a consultor de marketing, com todas as regalias de hospedagem e comida que eu poderia imaginar.

Depois de 2 dias fiz o seminário para o pessoal, sendo que o resultado foi tão positivo que me rendeu algumas indicações para trabalhar em outros hotéis de Uyuni e de Potosi. De um dia para o outro, muitas pessoas me convidavam para almoços e festas, quando em certo ponto me vi como uma pessoa realmente importante na cidade. Agora por aqui me chamam de Don Ricardo, que é basicamente um cumprimento que denota hierarquia. O mais engraçado é que eu fiz nada de complexo na minha assessoria! O que para mim era básico antes, me faz um gênio por agora por aqui.

Sinceramente digo que eu poderia ganhar uma boa grana se ficasse por aqui mais alguns meses, mas definitivamente este não é o meu foco. Não faria o mínimo sentido se eu largasse tudo no Brasil para pedalar, para depois parar tudo em função de dinheiro! Viver feliz é o foco, por isso necessito apenas do dinheiro necessário para isso.

Uyuni - Primeiros desafios

Bolívia – Uyuni, 27 de setembro de 2007.

Depois de 3 dias de estrada difícil e semi-desértica, coisa que pelo visto é normal na Bolívia, eis que chego à cidade de Uyuni para conhecer seu famoso deserto de sal. Aqui faz um frio desgraçado, com ventos que por vezes te deixam inclinar o corpo sem cair no chão, e no momento estou com “agradáveis” 8 graus abaixo de zero.

Depois de uma boa noite de sono, saí pela cidade para colher informações sobre como chegar ao deserto de sal e às lagunas Verde e Colorada, pontos paradisíacos da região. As respostas dos moradores foram quase unânimes, algo próximo de “tá loco!” e etc. O fato é que no deserto a temperatura pode chegar a 20 graus abaixo de zero, com ventos mais fortes ainda do que em Uyuni, sem asfalto e ainda por cima sem estrada ou sinalização em quase todos os pontos do trajeto, o que faria com que eu me perdesse sem um bom GPS - Acho que essa não vai dar pra mim. Porém, conhecer os próprios limites não necessariamente implica em deixar de superá-los, por isso apenas vou precisar arrumar uma forma de variar o método.

Como não poderia fazer os 800 km com a Capitu, verifiquei inicialmente a possibilidade de pegar uma carona ou ir de ônibus, descobrindo que ambas as opções são muito raras por aqui. Necessitava ir com uma agência de turismo, que cobrava 80 dólares, quantia da qual obviamente eu não dispunha.

Sendo assim, vou tentar conseguir algum trabalho pra levantar essa grana. Ainda não sei como vou fazer isso, mas sei que venho de muito longe pra desistir no meio do caminho. Vou tirar o dia pra rodar a cidade e ver as oportunidades que virão.

Despedida de Potosi

Bolívia – Potosi, 24 de setembro de 2007.

Hoje me despeço de Potosi, com uma saudade que mal cabe em mim. No começo da manhã me despedi dos mineiros, depois dos amigos do albergue, depois dos novos amigos espalhados pela cidade.

A despedida sempre é a parte mais difícil para um viajante como eu... Mas enfim, tenho muito mais mundo para conhecer. Aos amigos potosinos , digo que parte de mim nestas vastas terras altiplanas. Saudades, saudades, muitas saudades...

Trabalhando nas minas de Potosi


Bolívia – Potosi, 23 de setembro de 2007.

Depois de muita insistência, consegui que me deixassem trabalhar por um dia nas minas de Potosi. Jamais havia visto trabalho sob condições tão precárias e perigosas.

Tudo começa no alto da montanha de Serro Rico, num um frio de zero graus, com o agravante da água que encharca o solo e deixa tudo pior quando entra pelas botinas. Conforme vamos adentrando a montanha, o oxigênio fica mais escasso, os espaços ficam cada vez mais sinuosos e claustrofóbicos e a temperatura começa a subir – chegando a insuportáveis 45 graus. Sob condições tão extremas, o trabalhador daqui tem uma jornada que varia de oito a até 24 horas (sem comer, apenas com folhas de coca nas bochechas), das quais agüentei apenas 3.

Antes de começar a jornada de trabalho, os mineiros oferecem folhas de coca para “El tio”, a estátua de um diabo, para que não ocorram acidentes e as minas continuem férteis. Quando perguntei sobre a inusitada religião, os trabalhadores disseram que são cristãos, mas que a mina é lugar da Pachamama (a Mãe Terra), e do diabo, que consome vidas neste inferno abaixo da terra. Por aqui não existe vida, não existe deus, apenas trabalho e muita resistência física e mental.

Por aqui eles sobes e descem por espaços minúsculos carregando até 40 quilos nas costas, com pouquíssimo oxigênio misturado ao pó de silício, que consome lentamente os pulmões. Enquanto eu tinha a nítida sensação de que meus pulmões necessitavam de mais do que a mina oferecia, via em contrapartida os mineiros plenamente adaptados com a dura rotina.

Nas regiões em que os turistas não têm acesso, espantadamente vi crianças de 12, 10 e até 8 anos trabalhando sem diferenciação de um adulto, sem saber o que é escola ou infância. Assim segue a vida por aqui, normalmente até a morte ou a aposentadoria, dentre as quais apenas a primeira opção é conhecida por eles. Para se aposentar pelo estado, o mineiro precisa possuir três fatores conjuntos: 65 anos, 50% dos pulmões comprometidos e 300 contribuições ao sindicato. Por exemplo, se você tem 65 anos, 50% do pulmão ferrado, mas não fez todas as contribuições, infelizmente precisará trabalhar um pouco mais.

Quando perguntei a José Luiz, um dos mineiros mais antigos de Serro Rico, porque se submeter a tudo isso, ele me fitou seriamente e disse:

- Amigo, não há outra maneira de sobreviver por aqui. Tenho 67 anos, por isso sou uma exceção entre poucos de nós que passam dos 50. Temos que fazer isso por nossas mulheres e filhos.

- E até quando acha que vai fazer isso? – Perguntei.

- Até que El tio me chame, amigo.

Ao ver que fiquei muito abalado com suas respostas, José sorriu e mudou o tom da conversa:

- Você trabalhava com o que, menino? Computador? É quase a mesma coisa! Tudo é questão de acostumar!

Não consegui sorrir com a brincadeira definitivamente séria demais para mim. Sendo assim, perguntei apenas de ele acreditava no que acabava de me dizer. No mesmo instante, José parou de sorrir e manteve uma dignidade comovente no olhar, dizendo:

- No começo eu não acreditava em nada disso, mas com o tempo educamos a mente para isso. Se pensar no quanto tudo é difícil eu nem posso entrar na mina, pois El Tio me devora mais rápido.

De tanto que estudei para me qualificar no trabalho, pensava que eles não conseguiriam fazer o que faço, porém constato que a recíproca é verdadeira. Amigos, conheci hoje as pessoas mais valentes e resistentes de toda a minha vida, sentindo na pele como a necessidade de sobrevivência nos leva a uma adaptação sob condições tão extremas de vida. Confesso que por hora não sei mais como vou voltar a trabalhar em meu computadorzinho, pois agora sei de fato que há muita gente que vive assim.

Aos sair da mina, curiosamente alguns trabalhadores vão para a igreja para agradecer a Deus por mais um dia. Pelo visto, aqui na mina é necessário andar de mãos dadas com Deus e o Diabo.

Potosi - Futebol com os mineiros


Bolívia – Potosi, 22 de setembro de 2007.

Hoje participei de um campeonato de futebol com os mineiros de Potosi. Como venho da “Terra do futebol arte”, olhava para as arquibancadas e via que todos apontavam para mim, imaginando que veriam um gênio jogar, coitados. rs Aliando este nervosismo ao fato de que eu não sou propriamente um craque, imaginem no que deu...

Aos dois minutos do primeiro tempo cruzaram a bola para mim na pequena área, quando apenas chutei o vento e caí de bunda no chão, que vergonha. O zagueiro adversário pegou a bola e aproveitou o contra ataque, marcando o primeiro gol da partida. Todos riam muito de meu infortúnio, menos o técnico, que estava vermelho de tanto gritar “brasileño de mierda!”, “Hijo del putra!”, entre outras expressões não exatamente amigáveis e hospitaleiras.

Porém, meu momento chegou no segundo tempo da partida. Como agora tenho relativamente um bom preparo físico, aliado ao fato de que os mineiros estão cheios de silício nos pulmões, apenas eu conseguia correr enquanto todos estavam cansados. Daí por diante tudo foi muito mais fácil, pois eu apenas precisava chutar a bola pra frente e sair correndo, que nem o Forest Gump, conseguindo fazer três gols até o final da partida. Infelizmente nosso time perdeu mesmo assim, mas como eu me diverti! Engraçado, eu estava acostumado a me divertir apenas quando vencia.

Como toda boa pelada, tudo acabou com muita cerveja e piadas. O técnico do meu time dizia aos outros que “o brasileiro joga mal que só, mas como corre!”. Por via das dúvidas, fico na arquibancada em caso de uma nova partida. Rs

Potosi - Amigos europeus do albergue


Bolívia – Potosi, 22 de setembro de 2007.

Estou hospedado em um hotel bem baratinho e simpático chamado Koala Den, onde convivo com mochileiros de todo o mundo, principalmente com europeus. Curiosamente, há poucos latinos visitando a América Latina. Acabei formando um grupo de amigos legal, aproveitando o pouco tempo que teremos juntos por nossos pontos em comum de viagem.

- Emma, a inglesa, também viaja de bicicleta, por isso temos feito ótimas pedaladas por Potosi e redondezas - Sim, de fato também pode ser interessante pedalar acompanhado. Nas horas de hotel, ela me ensina a pintar vasos de barro, por mais que eu ache que ela vai desistir em breve, pois sempre reclama que eu sou muito afobado e minhas mãos tremem. Rs

- Cedric, o francês, é um excelente piadista, capaz de ficar horas me sacaneando por causa da copa do mundo. Fazer o que, tenho que engolir essa. Rs

- Rubem, o Espanhol, é o cozinheiro do grupo.

- Rob Doyle, o irlandês, toca violão muito bem, além de ser uma ótima companhia para discutir política. É muito interessante confrontar os pontos de vista de um latino e de um europeu na política, para ver o que cada um pode agregar ao outro.

- Celine e Lidy, as holandesas inseparáveis, apenas nos acompanham e escutam cuidadosamente nossas conversas. De vez em quando soltam comentários inusitados, sobre detalhes da paisagem ou das situações que ninguém havia reparado.

Entre os vários novos amigos há muito outros, por isso detalhei apenas os principais. Haveria também muitas histórias com Ingo, o alemão que saca tudo de economia; Sonja, a alemã que se encanta por tudo que vem do Brasil; Thereza, a francesa que não toma banho, entre muitas outras figuras imperdíveis.

Em muitas noites não dormíamos, seja para conversar, andar pela cidade ou apenas jogar um bom pôquer. Com sorte minha consegui convencer a todos de jogar cartas sem apostar, senão teria perdido até as cuecas! Seja como for, tem valido a pena os dias ao lado de gente tão legal. Percebo diariamente o quanto somos simultaneamente diferentes e iguais. Nossas diferenças têm sem complementado, de modo a fazer com que os dias sejam simultaneamente divertidos, intensos e instrutivos. Vejo em cada um deles o mesmo brilho nos olhos inerente ao viajante, um misto de curiosidade latente e leveza de espírito. Não sei se dá pra explicar, mas quem viaja sabe do que falo.

Paixão por Potosi


Estou perdidamente apaixonado por Potosi, vendo aqui uma casa que tão bem me acolheu. Se antes pensava em apenas passar a noite por aqui, talvez fique pelo menos uma semana ou mais.

Hoje fiz muito radical até as águas vulcânicas de Tarapaya, só descida maneira. Como é um lago vulcânico, resolvi dar uma de descobridor e tentar chegar até o fundo. Depois de me cansar de mergulhar e perder o fôlego, resolvi tomar a inteligente decisão de perguntar a profundidade do local: “1000 metros”, respondeu o sujeito ao idiota que vos escreve agora. rs. Quem cuidava do local era um gentil senhor chamado Fred, que passou o a tarde comigo a contar lendas dos Incas. Falava de tesouros, cemitérios, rituais e muitas outras historias que me contagiavam e estimulavam a imaginação, como as crianças que ouvem historias do avô.

A lama vulcânica é muito divertida para brincar de passar no corpo, por isso não pensei duas vezes antes de fazer isso. Pra manter a fama de Joselito, taquei lama no alemão que estava do meu lado, que logo tacou em mim e no sueco a seguir. Conclusão obvia: Guerra de lama!!!rs muito divertido.

Amigos, amei este lugar de primeira, pois de alguma forma tudo aqui mexe profundamente comigo. Algo aqui me faz respirar mais leve (e não é a altitude!), como se houvesse uma profunda harmonia entre o espaço, as pessoas e eu.

Reflexões quase revolucionárias

Como havia dito nos primeiros trechos da Bolívia, não tinha me sentido muito à vontade com o povo daqui, mas minha opinião se modifica gradativamente. Se eu continuar neste ritmo, vou me apaixonar pro todos e me sentir um autêntico boliviano.

Aqui na Bolívia há muitos índios camponeses, que muitos ainda chamam de mitayos. Para suportar a dura rotina de trabalho que lhes é imposta eles mascam muita folha de coca, o que deixa suas bocas e dentes verdes e com uma gosma escura a escorrer pelos lábios, o que lhes confere um aspecto terrível. Nas típicas reflexões de pedalada, percebi que não fazia sentido o meu afastamento, pois estas pessoas eram o motivo da minha viagem. Sendo assim, resolvi passar o dia numa aldeia de mineradores de Potosi, disposto a ouvir cada palavra do que eles tinham a me dizer.

Ao conversar mais com estas pessoas - com um pouco de dificuldade, pois eles falavam mais quéchua do que castelhano- percebo mais uma vez que as fronteiras entre nós e o outro, assim como as fronteiras geográficas, são invencionices do homem. Descobri um povo extremamente pacífico e trabalhador, por isso me senti bastante envergonhado devido ao juízo inicial que fazia deles. De fato a exploração é algo rotineiro e ao mesmo tempo aceito entre eles, por isso agora sinto um certo nojo de quem os explora, não mais deles.

Mediante a uma rotina tão dura, confesso que esperava ouvir brados de ira ou algo do tipo, por isso fiquei surpreso ao verificar um misto de conformidade e garra para superar as adversidades diárias, me levando a pensar se o excesso de passividade lhes é prejudicial algumas vezes. Não sei, talvez fosse melhor usar esta garra tão grande para sair da exploração, não para sobreviver a ela.

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Graças ao bendito filme Diários de motocicleta, em muitos povoados me chamam de “compay Guevara”. Como detesto qualquer tipo de comparação, no início ficava bastante chateado, mas agora até atendo quando me chamam assim. Em comum talvez tenhamos a determinação que separa sonhadores de utopistas, ou também a vontade de conhecer o que só era visto nos livros, mas creio que as semelhanças parem por aí. Sinto decepcionar a muitos, mas não sou um revolucionário.

Sinto como se uma semente muita fértil estivesse germinando em mim, mas não faço idéia de quais serão seus frutos. Por hora, vou me deliciando com a gostosa sensação de ser mudado pelo mundo, depois posso pensar em mudá-lo, talvez.

Desafio - Subir os 4400 metros de altitude de Potosi


Bolívia – Potosi, 21 de setembro de 2007.

Depois de três dias e meio de subida dura, finalmente consigo chegar até a cidade povoada mais alta do mundo: Potosi.

Sabia que iria enfrentar a meu maior obstáculo até então, por isso sentia um misto de medo e preguiça ao imaginar que subiria com a Capitu até 4400 metros acima do nível do mar, assim como sabia que entraria no altiplano boliviano, o que significa enfrentar ventos mais fortes ainda (o que eu achava impossível) e temperaturas abaixo de zero.

Ao chegar à grande serra, via lá no alto a estrada onde eu devia chegar, sabendo que acima das nuvens havia mais caminho a seguir. Se eu imaginasse o obstáculo completo a transpor, com certeza não subiria a serra ou sequer sairia do Rio de Janeiro, por isso me concentrei em vencer cada quilômetro. Como subi muito lentamente o corpo se adaptou bem com a altitude, por isso não senti dor de cabeça, tontura ou algo do tipo, mas o grande problema era o ar que me faltava cada vez mais a cada metro. Se ao subir uma serra de bicicleta o ar já falta normalmente, acrescentem a isso o impacto do vento, do frio e da altitude para imaginar a dificuldade. No começo da serra eu pedalava 5 km e descansava, depois passei a descansar a cada 1 km, depois a cada 100 metros, depois 10, para finalmente, nos últimos 500 metros vencer, apenas carregar a Capitu. Não sei explicar com ou porque, mas sabia que conseguiria, por isso segui confiante até o final.

Ao chegar ao final da serra, olhava para baixo e não acreditava no que acabara de ter feito. Absolutamente esgotado, deitei a Capitu no canto da estrada, sentei-me ao seu lado e me pus a chorar compulsivamente, sem saber exatamente porque fazia aquilo – Me deu vontade e chorei, apenas isso. Ainda me pergunto como consegui, mesmo sabendo que não tenho todas as respostas para isso, então apenas me delicio com a gostosa sensação de pedalar entre as nuvens.

Sei que ainda estou no começo da jornada, e que desafios e recompensas maiores virão, por isso estou cada vez mais empolgado para seguir em frente. Puxa, imaginava desde a minha casa como seria difícil subir esta serra... Puxa, consegui!!!