terça-feira, 18 de março de 2008

Com o pé na cozinha, literalmente

Antes de tudo, quero pedir a paciência de vocês quanto aos meus erros bobos de português, assim como por meu vocabulário que está ficando cada vez mais reduzido. O que passa é que não tenho com quem falar português já há um bom tempo, por isso sinto cada vez mais dificuldades em encontrar as palavras mais simples, isso quando sem querer não mando um portunhol de meia tigela. Juro que no Brasil escrevia muito bem...por isso peço um pouco de paciência. Bom, dito isso, vamos ao que interessa.

A novidade principal, que pensando bem não é tão novidade assim, é que mais uma vez adio meus planos de saída de La Paz. Por diversas razões, não exatamente emocionantes o suficiente para detalhar aqui, o salário de todos os empregados da empresa onde eu trabalhava foi retido, o que vai me fazer aguardar aqui por um tempinho mais. Com esse último salário vou comprar umas coisas para a Capitu, um nova câmara (sim, roubaram a minha por aqui), e reservar um pouco para os imprevistos até o Peru. Como por aqui terei despesas até que a grana chegue, juntando com as coisas que vou ter que comprar, mais uma vez vou sair com pouca grana, mas todos sabem que isso não é exatamente um problema para mim. Tenho tudo o que preciso abaixo de meu capacete e em cima de meus sapatos, então o resto se ajeita com tranquilidade.

Nestes últimos dias comecei a trabalhar na cozinha daqui do meu hostel, pra economizar a grana de hospedagem e comida. Acho que finalmente estou trabalhando em algo mais de acordo com as minhas expectativas ao sair do Brasil, e confesso que estou me divertindo muito com a simplicidade dos meus novos colegas de trabalho. Outra grande vantagem é que estou aprendendo a cozinhar coisas de quase todo o mundo, passando por pratos asiáticos, europeus e sulamericanos. Pode parecer estranho para alguns o que vou dizer, mas creio que pelo menos uma vez na vida deveríamos experimentar o ato de servir a alguém. É um ato que exige grande humildade, o que não necessariamente quer dizer que se trata de uma relação de inferioridade. O fato é que definitivamente sou um cara mais adepto ao pessoal da cozinha, embora necessite conviver com o pessoal de gravata. Sendo assim, até que eu siga viagem vou dando uma de Cheff em La Paz.

Por enquanto vou seguindo por aqui, caros amigos. Treinando diariamente levantando pesos com latas de tinta, subindo montanha correndo, ganhando peso e etc. Praticamente um Rocky Balboa. rs

segunda-feira, 3 de março de 2008

A recuperação

Depois de um certo tempo, posso dizer com seguridade que estou 100% recuperado do que passou com meu pai e de tudo mais, pronto mais uma vez para seguir em frente. Não, definitivamente não foi fácil, mas a vida está por aí pra ser vivida, então que vivamos.


No auge da tristeza disse que não tinha mais de onde tirar forças em mim pra superar a morte de meu velho, e isso se manteve. Descobri que quando não há mais de onde tirar força, tantos e tantos amigos, familiares e desconhecidos chegam para dar tudo de si para que alguém fique melhor. Assim, sem pedir nada em troca nem nada. Puxa, não me faltaram abraços, amigos, carinhos e palavras de consolo, algumas vezes boas outras cheias de coisas em que não acredito, mas igualmente cheias de um altruísmo inacreditavelmente forte.


Por aqui no meu hostel em La Paz tive uma verdadeira família ao meu lado. Como sabiam que eu não queria subir ao bar para comer, todos traziam refrigerantes, chocolates e sanduíches a todo instante, sendo que traziam exatamente o que sabiam que eu gostava. Como se somente isso não fosse suficiente, o pessoal se juntou pra comprar uma passagem de ida e volta pro Rio de Janeiro, pra poder ir ao funeral. Nem todos por aqui têm muito dinheiro, mas cada um cedeu um pouquinho pra poder ajudar. Agradeci comovidamente, mas não aceitei. Como ateu praticante que sou,penso que meu pai se foi e findo, por isso não há mais seu Batista em La Paz, Rio de Janeiro ou onde quer que seja, por isso não me faria muita diferença estar no seu enterro. Meu pai agora segue comigo, pra onde quer que eu vá. Não em espírito nem nada de místico, mas em minha lembrança, no que com ele aprendi, no que agora por ele viverei.


Agradeço imensamente a todos os e-mails que recebi e a todas as pessoas que estiveram ao meu lado. Galera, com vocês tudo foi muito mais fácil. Cada um ajudou de sua maneira... Não me faltou carinho, apoio, xingamentos pra fazer a gente pegar no tranco, ou simplesmente aquela coisa de “estamos juntos, pro que der e vier”. Claro que também apareceram os já tradicionais internautas que me encheram de conselhos egoístas do tipo “faça isso por nós”, “você não tem o direito de abandonar um sonho” e etc, como se eu fosse um livro de auto-ajuda ambulante. Sei lá, povo, vocês podem me trocar tranqüilamente por um livro do Paulo Coelho, Seicho-no-ye, sei lá.


Creio que não só tenha me recuperado, como agora tenho na morte de meu pai um incentivo extra pra seguir em frente, por isso agora me sinto mais forte do que nunca. Sei o quanto meu velho se orgulhava de minha viagem, e sei exatamente o que ele esperaria de mim nessa hora, então que siga a viagem, o sonho, a vida.


Obrigado, muio obrigado a todos...Não teria conseguido sozinho.