domingo, 9 de setembro de 2007

Mato Grosso do Sul- aprendizados

Sempre que me perguntam de onde venho ou para onde vou, ouço sempre as mesmas coisas: “Tu é doido!”, “Vai ter coragem assim lá longe!”. Começo a ver o quanto a loucura e a coragem andam juntas.

Para fazer o que parece loucura é necessária uma boa dose de coragem, assim como uma dose de loucura cai muito bem para quem necessita de coragem. Não me vejo nem tão louco e nem tão corajoso como dizem por aí, apenas tenho um sonho e sigo atrás dele, sendo feliz enquanto o realizo.


Mato Grosso do Sul, Dois irmãos do Buriti – 01 de setembro de 2007.

Quando digo que sou ateu, tenho a impressão que daria no mesmo se eu dissesse que sou ex presidiário, por isso aprendo a esconder isso. Isso quando não me cismam de tentar me converter, um saco!!

O mais engraçado disso é que sempre me chamam pelo caminho de menino abençoado. Há uma fábula muito conhecida por aqui que diz que Jesus visita as pessoas através de gente comum, por isso muita gente acha que sou manifestação divina. Pra dizer a verdade sou sim, e todos somos. Vejo divindades em cada pessoa que encontro pelo caminho, por isso posso me considerar um grande peregrino à procura de suas divindades.

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Hoje ganhei dois pães para levar durante a viagem, sabendo que aquela seria provavelmente a minha única alimentação do dia. Ao parar para encher as garrafas de água, uma mãe com um filho no colo me pediu para comprar as toalhas que vendia, para dar de comer para a criança. Disse que não tinha dinheiro, mas me sentei para dividir o meu pão com eles. Claro que pensei que aqueles pães me fariam falta, mas vi que faria falta para eles também.

Quando parei para encher novamente as águas durante o almoço, um pastor resolveu me dar mais pães frescos e ainda me pagou um suco. Contei da situação que havia ocorrido pela manhã, me arrependendo logo em seguida por pensar que ouviria mais um sermão bíblico. Ele simplesmente me disse que na vida é assim mesmo, que o bem gera o bem. Sei lá, recebendo o pão de volta ou não, me fez bem ver outra pessoa bem.

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Ao final do dia, parei em uma pequena fazenda para descansar e beber água. O dono de lá perguntou se eu não queria passar o dia por lá, dizendo que recentemente havia passado por lá um americano que também cruzava a América do sul de bicicleta e tinha adorado as conversas com ele.

No final das contas passei 2 dias lá, tendo tomado banho de rio transparente, cavalgado, aprendido a laçar boi e vivido com muita tranqüilidade. É gostosa a sensação de acordar pela manhã e tirar você mesmo o leite que vai beber, fervendo-o com a lenha que você mesmo cortou. Conheci um pantaneiro de apenas 16 anos, que me ensinou a fazer arapucas, me mostrou as frutas que posso comer na estrada e muitas outras coisas. Saudades desse pessoal...

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Assim que saí do Rio de Janeiro, fiquei preocupado por pensar que estava saindo de casa. De tão bem acolhido que tenho sido, pensei o mesmo ao sair de SP e acredito que vai acontecer o mesmo ao sair do MS ou até do Brasil. Penso agora que a minha casa é o Brasil, a América do Sul ou onde eu estiver pelo mundo.

Não sei se é simples de explicar, mas vejo que todas as pessoas são muito diferentes, mas que há uma grande igualdade que une a todos, que é o fato de que vivemos na mesma casa redonda.

Vejo que as fronteiras são invencionices do homem. Confiro na prática o que o Raul Seixas queria dizer quando se referia a fronteiras como “cercas embandeiradas que separam quintais”.

Mato Grosso do Sul, Aquidauana (entrada do pantanal), 03 de setembro de 2007.

Pela primeira vez encontrei algum perigo durante a viagem. Não sei explicar como, mas na hora do aperto bate um sangue frio e uma percepção mais aguçada das coisas.

Um sujeito na igreja onde pedi abrigo me ofereceu sua casa para passar a noite. Apesar de vê-lo bem vestido e aprumado, resolvi conversar mais com ele antes de aceitar o convite. Ele dizia ter sido o homem mais rico daquela cidade e etc...e aprendi desde os tempos de Rio de Janeiro a ter um pé atrás com quem conta muita vantagem. Para ver a fama do sujeito na cidade, pedi licença pra comprar doces e conferi com a dona da lojinha sobre a fama do rapaz na cidade (em lugares pequenos todos se conhecem). Descobri que o cara era ex-presidiário e estava solto sob condicional, tendo mais de 50 processos de agressão nas costas.

Vi que ele não estava armado e que eu teria chance em uma eventual briga, pois ele era tão magricelo quanto eu. Disse que seguiria viagem até a próxima cidade e mesmo assim ele insistiu em me acompanhar até o centro. Foi quando eu achei uma república de universitários, entrei cumprimentando todo mundo como se fossem meus amigos de infância (eles não me conheciam mas não falaram nada), e disse ao moço que havia encontrado alguns amigos que poderiam me dar abrigo por lá mesmo. UFA!!

Os caras da república me receberam muito bem, enchendo a minha noite de histórias da juventude do campo e de ótimas gargalhadas. Aprendo muito com eles sobre agronomia, criação de gado e diversas outras coisas.

Ai que saudade dos meus tempos de faculdade...rs

2 comentários:

Unknown disse...

Fala mulequeeee !!!!!
haiahiuaha
aquele dia q tu apareceu aqui foi massa !!!!
ve c volta fi ...tamo esperando o c por aqui !!!
boa sorte ai ....q tudo de certo ai na viagem !!!!
abraço!!

Unknown disse...

fla ricardo!!!
Aki quem ta flando é uns dos guri q tava lá na rep. q vc dormiu em aquidauana, mas naum morava lá, morava ali perto!!
parace q vc ta andando bem hein, ja ta na bolivia!!!
tava aki lendo as suas aventuras, e q aventuras!!! qria deseja boa sorte pra vc!!
boa viagem!!!!