domingo, 9 de setembro de 2007

Dormindo com sem terras - Mato Grosso

Mato Grosso do Sul, Nova Alvorada do Sul – 29 de agosto de 2007.

Conforme eu havia planejado, dormi no acampamento dos sem-terras no dia seguinte. Todos viviam sem luz e em barracas feitas de lona, isso sem contar o chão de barro, os mosquitos e as condições nulas de saneamento básico. Vi gente com seus 30anos, que procuram terras desde que nasceram, e que ainda não perdem as esperanças.

Eu pensava que todo acampamento era do MST, mas esse era da CUT. Me apressei para conversar com o líder do acampamento, um senhor dócil e forme chamado Seu Guilherme. Descobri inicialmente que somente no Mato Grosso do Sul existem vários grupos acampando, entre eles o MST, a CUT, o FAF e o FEPAG.
Segundo ele, somente o MST e o FEPAG invadem terras e vão para o conflito direto, enquanto os outros grupos acampavam na porta da propriedade com a autorização do proprietário da fazenda, utilizando o INCRA para negociar a compra da terra e depois dividi-la. Um detalhe que descobri posteriormente é que o governo não dá a terra e nem muito menos para por elas em dinheiro. Eles pagam ao fazendeiro em títulos agrícolas, que podem ser trocados nas empresas que devem impostos ao governo. Após isso, o trabalhador que recebe a terra é obrigado a destinar parte de sua plantação para pagar pela terra.

O Seu Guilherme já está no movimento há 7 anos, já tendo assentado cerca de 100 famílias e sem jamais ter tido a sua, pois há gente que precisa mais do que ele. Ao me despedir, lhe fiz duas perguntas, ficando comovido e surpreso com as respostas.

- Seu Guilherme, o senhor acredita que haverá reforma agrária efetiva no Brasil?
- Olha, se eu não acreditar, não posso nem mesmo estar por aqui, mas confesso que por várias vezes já pensei em desistir...
- E o que é necessário para que as terras comecem a ser divididas?
- Olha, meu filho, de política mesmo. Sem gente no congresso pra lutar pela gente não dá pra conseguir nada. Aí a gente vai precisar ir para o conflito, e a polícia sempre defende o lado de quem tem mais dinheiro, aí vai começar a morrer sem terra em todo lado e a coisa não vai mudar nunca.

São conversas como essa que fazem minha visão de mundo ir mudando drasticamente. Nem todos os sem-terra são violentos como a TV mostra, e eles são mais inteligentes e organizados do que imaginei. Desejo-lhes sorte, paz e terra.

Queria visitar também um latifundiário, para ouvir o outro lado da história. Infelizmente eles raramente estão nas propriedades que ocupam.

Nenhum comentário: