segunda-feira, 3 de março de 2008

A recuperação

Depois de um certo tempo, posso dizer com seguridade que estou 100% recuperado do que passou com meu pai e de tudo mais, pronto mais uma vez para seguir em frente. Não, definitivamente não foi fácil, mas a vida está por aí pra ser vivida, então que vivamos.


No auge da tristeza disse que não tinha mais de onde tirar forças em mim pra superar a morte de meu velho, e isso se manteve. Descobri que quando não há mais de onde tirar força, tantos e tantos amigos, familiares e desconhecidos chegam para dar tudo de si para que alguém fique melhor. Assim, sem pedir nada em troca nem nada. Puxa, não me faltaram abraços, amigos, carinhos e palavras de consolo, algumas vezes boas outras cheias de coisas em que não acredito, mas igualmente cheias de um altruísmo inacreditavelmente forte.


Por aqui no meu hostel em La Paz tive uma verdadeira família ao meu lado. Como sabiam que eu não queria subir ao bar para comer, todos traziam refrigerantes, chocolates e sanduíches a todo instante, sendo que traziam exatamente o que sabiam que eu gostava. Como se somente isso não fosse suficiente, o pessoal se juntou pra comprar uma passagem de ida e volta pro Rio de Janeiro, pra poder ir ao funeral. Nem todos por aqui têm muito dinheiro, mas cada um cedeu um pouquinho pra poder ajudar. Agradeci comovidamente, mas não aceitei. Como ateu praticante que sou,penso que meu pai se foi e findo, por isso não há mais seu Batista em La Paz, Rio de Janeiro ou onde quer que seja, por isso não me faria muita diferença estar no seu enterro. Meu pai agora segue comigo, pra onde quer que eu vá. Não em espírito nem nada de místico, mas em minha lembrança, no que com ele aprendi, no que agora por ele viverei.


Agradeço imensamente a todos os e-mails que recebi e a todas as pessoas que estiveram ao meu lado. Galera, com vocês tudo foi muito mais fácil. Cada um ajudou de sua maneira... Não me faltou carinho, apoio, xingamentos pra fazer a gente pegar no tranco, ou simplesmente aquela coisa de “estamos juntos, pro que der e vier”. Claro que também apareceram os já tradicionais internautas que me encheram de conselhos egoístas do tipo “faça isso por nós”, “você não tem o direito de abandonar um sonho” e etc, como se eu fosse um livro de auto-ajuda ambulante. Sei lá, povo, vocês podem me trocar tranqüilamente por um livro do Paulo Coelho, Seicho-no-ye, sei lá.


Creio que não só tenha me recuperado, como agora tenho na morte de meu pai um incentivo extra pra seguir em frente, por isso agora me sinto mais forte do que nunca. Sei o quanto meu velho se orgulhava de minha viagem, e sei exatamente o que ele esperaria de mim nessa hora, então que siga a viagem, o sonho, a vida.


Obrigado, muio obrigado a todos...Não teria conseguido sozinho.